Mariano Soltys
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TUBARÃO 4 e a vingança da mulher


 

Na quarta parte da franquia, a qual se originou no brilhante Spielbert, mas esse dirigido por Joseph Sargfent, vê-se um dia de Natal como qualquer outro, com canto de coral, estrelas, enfeites característicos. Na praia há toda aquela aura de conforto e relaxamento. Mas por trás desse aconchego aparente, eis que vem uma força incontrolável e misteriosa: o tubarão. Em sua sede de vingança, pega primeiro o filho de seu inimigo, o qual apenas deixou mais um filho e uma viúva (Lorraine Garry). Para o bom elenco, se chamou o engraçado Michael Caine, que aqui trocou sua Fábrica de Chocolate por peixe frito. O filme não mantém a qualidade do primeiro e segundo (o terceiro não parece ser parte alguma...), mas tem alguns momentos de forte emoção, e um tom psicológico forte, apelando para pesadelos, premonições e até telepatia. Há um retorno para a ideia original: uma força sem controle.

O tubarão parece mais um demônio, um,a vez que cegue a viúva do chefe de polícia, de modo que mesmo ela passando o luto nas Bahamas, acaba por a procurar. Ela tem a premonição da perseguição do demônio vestido de tubarão, mas ninguém lhe dá créditos. Tem pesadelos, vive hitericamente. E como em filmes desse gênero há gritos histéricos. E ainda para compensar a esposa do filho é ninfomaníaca (lembra filme de Lars Von Trier...). Os momentos em que o tubarão sai da água são quase surreais, e assim o filme entra para ser um triller mesmo, não um documentário de tubarão. Filme agradável e com momentos de alegria que se alternam com os de terror, ou de ação. Difícil imaginar que estudantes teriam um submarino, mas em filmes vemos dessas coisas.

Muito interessante são as cenas do mar. Há aquele horizonte que põe medo, que quase personifica o tubarão, sua força misteriosa e desejo de engolir. O mar também deseja engolir, ele tem vida, tem espírito. Esse tubarão, desde aquele primeiro sempre foi um espírito do mal, uma força que nada tem a ver com o animal que conhecemos. Mas tubarões são pré-históricos, eles manifestam aquela nossa energia interna de predadores. E quer maiores predadores que os seres humanos? O filme parece mostrar isso no desejo de vida, e ao mesmo tempo nas mortes que vão surgindo, novamente os aspectos que Freud chamava de Eros e Anteros, desejo de vida e de morte.
O tubarão come barcos, tenca morder um avião, devora a coragem. Quantos de nós já não tivemos um medo incontrolável, verdadeira fobia inexplicável. No filme a Ellen tem esse medo e esse ódio, uma vez ter perdido o esposo e agora o filho para o tubarão. Seu filho Mike não acredita na crença da mãe. Muitas vezes as pessoas veem apenas superstição em temas como a maldição. Mas ela existe. Aqui a maldição vai fazer o tubarão buscar Ellen e seu filho Mike, a fim de os devorar na vingança. Mas quem se vinga? A viúva em luto ou o tubarão? Fato é que quando não é o mar, é a terra que nos devora, para o problema filosófico indissolúvel: a morte. E ela descobre uma nova vida, quando começa a namorar Hogie, que lhe leva a passeios de avião (um anjo que leva ao céu?), e assim forma o filme uma simbologia interessante. Tubarão=anjo da morte, piloto=anjo que salva, mar=vida e morte.

E essa mulher enfrenta o tubarão, ou melhor, a besta de seu tempo, o machismo e dominação de sua sociedade. A mulher assim vence o preconceito, arrumando novo namorado, e supera a morte do filho. A mulher venceu todos os monstros: se libertou de tubarões-machos, seja na figura de pai opressor, seja na de marido manipulador. E para uma mãe perder o filho pode ser a morte. Ela passou por essa iniciação e vai enfrentar o tubarão. Leva o barco sozinha e adentra no mar amplo, o mar do inconsciente. Não há fera maior do que aquela que está dentro de nós. Essa nos põe medo, nos devora, leva a vida ou a morte. Esse tubarão é um dragão interno. Poderoso. E assim com ajuda de seu anjo aviador, e de seu filho que reencarna o marido, ela enfrenta o bicho-demônio. Derrotam a fera e com a inteligência do amigo do filho Mike (seu anjo da guarda?), eles explodem ou batem com barco de frente ao tubarão. Pois enfrentar é algo “de frente”. Mais um tubarão é vencido. E assim o filme é até agradável, tem bom som e parece com as chamadas de trechos do primeiro, levar algum sentido de se situar na história. Um bom filme, e talvez o menos conhecido da série.
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 28/12/2014
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