Filme “Se enlouquecer não se apaixone” e a adolescência
Filme “Se enlouquecer não se apaixone” e a adolescência
Essa película original foi um achado emprestado por um amigo (Patrick Vicente), e a comédia pareceu de início mais um drama, porém trata do tema da convivência em um hospital psiquiátrico, onde um adolescente de 16 anos se interna por si mesmo, haja vista entender ser um suicida. Por uma crise em sua vida amorosa, tendo em vista a menina que o rapaz estar apaixonado ser namorada de seu melhor amigo, ocorreu dessa opção pelo internamento, o que de início não era a vontade do protagonista, que aos poucos vai fazendo amigos, os mais “irados”. Dos diretores Anna Boden e Ryan Fleck, o filme é muito interessante e superou minhas expectativas, em comparação a outros filmes com o título parecido, que geralmente são filmes de amor mal resolvido ou separação, já nesse é mais o sentido da existência que se torna o foco e o quanto nós estamos em vantagem na vida, apesar de muitas vezes reclamarmos da nossa.
O narrador em primeira pessoa, as cenas de sua imaginação, as conversas e bons toques de humor fazem do filme um bom momento de entretenimento, bem como de uma classificação de censura de apenas 12 anos, o que pode unir toda a família para a sua exibição. O roteiro é bem feito, talvez por seu uma adaptação de um livro, o que facilita o trabalho em se tratando de criatividade. Claro que no cinema tem de se selecionar algo central para as tomadas, uma vez que o filme tem de contar a história dentro dos seus 100 minutos, o que não é fácil.
Mas dentro do hospital o garoto conhece um amigo muito legal, o Bobby, que lhe indica e envolve na situação de todos, e que o apoia nos seus próprios conflitos. A existência na adolescência é mesmo uma fase de escolhas e conflitos de toda a ordem, e mesmo da “boca pra fora” é comum se falar em suicídio. É a programação mental errônea de não ter mais mestres nem guias, mas pais distantes e toda uma sociedade consumista e utilitarista que não mais lida com o aspecto humano, suas emoções e dificuldades. O fato de se amar a namorada do amigo pode ser um conflito mais acentuado para um adolescente, onde pululam os hormônios. Mas ao entrar no hospital o rapaz conhece uma outra garota, Noelle, que convida ele para conversar e faz um jogo de perguntas e respostas, descobrindo mais sobre o mesmo. Ambos se divertem e interagem nas descobertas dele, que aos poucos se descobre com muitos talentos que jamais pensava ter, como ser exímio desenhista e um cantor de rock.
Os internados são pessoas bem “normais”, um judeu ortodoxo de tomou cem pastilhas de LSD e continua viajando, outro é companheiro de quarto do protagonista e que não sai da cama, outro tem fixações com a comida, outro é esquizofrênico e diz palavras desconexas e assim por diante. A sensibilidade do garoto para com essa realidade o fez repensar que sua situação é por demais positiva, e que a sua família tem importância, e que por fim aquele “amor” pela namorada de seu amigo era mais um desejo. O seu amigo Bobby é que sofre realmente, quando deseja ver a filha e é impedido pela mãe dela, haja vista estar internado, o que faz este entrar em crise e jogar livros no chão. O ator Zach Galifianakis, que faz o Bobby, é muito engraçado e nos bastidores e cenas excluídas pode-se perceber que este é puro improviso, valendo a pena ver suas constantes piadas e tiradas, palavrões e coisas que não entraram no filme talvez pela censura de idade desejada.
Parece que isso representa bem um existencialismo sartriano: “O outro é o inferno”. E a crise da adolescência é apenas temporal, algo que acontece e passa, enquanto viver com uma doença mental é muito mais profundo, e muitas vezes sem volta. E encontrar uma nova namorada, uma nova vida e nova esperança podem ser muitas vezes o remédio, uma vez que não se deve por certo ficar na cama do conformismo, mas sim lutar para não entrar por engano no hospital psiquiátrico. O lugar era mesmo esse hospital, e no fim há um agradecimento ao local e sua disponibilidade. E o personagem dá uma lição de vida ao ajudar e continuar apoiando os pacientes e seus amigos, compreendendo a situação, antes de meramente julgar, como o faz a maior parte da sociedade. Segundo Freud o impulso de morte ou para matar é Tanateros, uma versão oposta do anjo do amor, o Eros ou Cupido, e o primeiro que inclina o ser a alimentar essas ideias mórbidas. E a adolescência é apenas uma fase de crise, não se comparando ao problema mental, que poder ser uma vida de crise. E viver é a lição do filme.
(Trecho de livro Filmes e filosofia, do mesmo autor, pela editora AGBOOK)
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 01/01/2013