Mariano Soltys
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Filme Melancolia de Lars Von Trier e a personalidade feminina
Filme Melancolia de Lars Von Trier e a personalidade feminina

Nessa produção de Lars von Trier, que faz bem no seu estilo um cinema que se aproxima do cinema arte, de tal modo que vemos cenas fixas e a não preocupação com ação ou coisas corriqueiras que vemos no cinema comercial. Ao colocar o filme, achei que havia travado meu aparelho, mas era o jogo de cenas que na arte parecia estático, mas em verdade se revelava um resumo de todo o drama. Apesar disso, o filme foi lançado comercialmente, mesmo mantendo o estilo de filmagem de câmera solta no ombro, e às vezes parecendo algo amador.
Aqui, de longe me pareceu de início uma revelação da personalidade feminina, no seu antigo ideal, o casamento, numa parte, e na outra parte uma vontade de fim do mundo, ou melhor, Eros em primeira parte e Anteros na segunda, pulsão de vida e de morte. O fim especial me lembra Shakespeare, e mesmo os contos que eu mesmo escrevo. O filme é realista e não economiza cenas para revelar a crise existencial de Justine.
Ótimas fotografias, apesar de que vemos a computação gráfica, revelam ainda um ar bem luxuoso, da mansão ou castelo que é alugada para o casamento. Há um livro chamado “She: a chave da personalidade feminina” que revela bem essa dinâmica de uma existência para o casamento. Vemos assim o sonho se misturando com a realidade, ou melhor, a libido poligâmica se misturando com a fábula do amor perfeito, e a protagonista já trai o marido na festa de casamento, com um jovem que trabalha na empresa de publicidade onde ela é promovida. O casamento se revela em muitos imprevistos, atrasa, a limusine encalha, desencontros entre noivos, o bolo que e partilhado e a bebida para descontrair. O casamento é uma morte simbólica, uma iniciação para a mulher, ou, pelo menos era no passado. Ponto focal é a voz da mãe da noiva, que revela toda a farsa do casamento e do amor apaixonado.
Na segunda parte do filme há mais uma vontade para o fim, e a protagonista já separada fica cuidada pela irmã. Lá ela enlouquece de vez e frente ao fim do mundo previsto, ela fica tranquila e realizada. Anda a cavalo, se deita nua em um bosque próximo ao haras. A bela atriz Kirsten Dunst também se revela o sonho da maioria dos homens, e isso parece se revelar na imagem de sua montaria. A segunda parte parece uma TPM. A sua irmã Claire fica desesperada pelo fim do mundo que se aproxima e tenta salvar o filhinho. Seu marido cientista diz que nada vai acontecer e por fim se suicida. As irmãs se encontram por fim e constroem manualmente uma cabana. O lar simbolizando o aconchego, e aqui apenas resta o lar espiritual, já que o mundo carnal terá um fim.
Lars von Trier já é de longa data procurado por mim, e aqui nessa produção, e em outras, como o Anticristo, e ainda a Ninfomaniac (que parece mais uma chave da personalidade feminina...), se revela algo original e verdadeiro gênio, longe do cinema que cada vez mais fica enlatado e se vê como um grande labor de galpão, temperado com computação gráfica e enredo cada vez mais pobre, e temas clichês. Gostei de Melancolia por ser melancólico, por ser sincero em ficar triste nas horas certas. Há muito fingimento em nosso tempo, e as pessoas estão hipnotizadas pela necessidade de não passar por transformações, como a mulher em seu casamento, naquela morte simbólica, que ainda é acompanhada pelo nascimento do filho, posteriormente.  

(Parte de livro do autor, Filmes e filosofia, pela editora AGBook)
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 06/01/2013
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