Mariano Soltys
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Filme “Cubo” e as prisões epistemológicas
Filme “Cubo” e as prisões epistemológicas


Essa produção canadense de Vincenzo Natali supera o esperado, e choca logo pelo local em que se desenrola: em um cubo que serve de prisão, repleto de armadilhas onde seis pessoas vivem uma espécie de reality show, umas vendo as outras morrerem de forma fatal. O filme tem uma violência comparável aquelas produções intituladas “Premonição”, porém com um foco de ficção científica, indicado a todos os intelectuais e eruditos. Tentamos decifrar o enigma das armadilhas e assim o filme se diferencia dos outros, porque trás certa participação do cinéfilo. O filme traz duas opiniões: ou se ama o filme, ou se odeia.
Começa por um homem que cai em armadilha, e assim também foi no Cubo Zero, que trouxe as respostas da primeira versão. Aqui no Cubo vemos que as coisas trazem uma série de questionamentos dos seus reclusos, como se trata de coisa do governo, de conspiração ou mesmo de um psicopata. Porém na crise as pessoas se tornam até violentas e revelam traços inexperados de suas personalidade. Além de que cada uma tem sua prisão epistemológica, seus conhecimentos limitados. A matemática só entende dos cálculos, que parecem ser a salvação, mas não resolvem o problema de procurar a saída dos 21 cubos, ou milhares de cubos que funcionam em mecanismo caótico. O policial acha que entende das coisas e quer bancar o herói, mas acaba sendo por fim o vilão. A médica entra quase em choque, e não auxilia muito, a não ser atrazer mais pessimismo ao grupo. O deficiente mental começa como excluído, mas acaba sendo a salvação do grupo, porque é gênio em matemática e em descobrir os tais números primos, chave do enigma.
As perguntas que ficaram no primeiro Cubo foram respondidas em outra produção, em Cubo Zero. Lá vemos o grupo de pessoas malucas que cuida desse dispositivo de morte e vemos que muitos até saem do cubo, mas não respondem certo a pergunta fundamental: “você acredita em Deus?” e assim acabam na fogueira e acorrentadas, após não responderem. Um clima meio medieval e misturado a tecnologia e a arquivos semelhantes a que possuía a segunda guerra, em local subterrâneo, quase um inferno tal Cubo.
Primeiro pensei em um fractal, quando amigo meu sugeriu esse filme, mas ao assistir vi que não se tratava de algo virtual, mas da própria escravidão epistemológica das pessoas, seu individualismo que não salva e ideias limitadas. Umas condenam as outras, crenças se opõem a crenças e forças obscuras existem. Também me veio a ideia esotérica de cubo, que se trata da dimensão material de existência, que por tal é tridimensional, limitada por tempo e espaço. Superar essa roda ou cubo é na verdade encontrar a verticalidade e a epistemologia suprema, não mais tendo de entrar nas encarnações e mortes, ou na roda de sânsara hindu. Isso leva a Nirvana ou ao paraíso de Deus. Vi no cubo tudo isso e um pouco mais. Além da tecnologia inserida para controlar o ser humano, no reality show do grande irmão a que vivemos hoje em dia, controlados por internet, celulares e outras coisas, que não notamos.
Fato é que quando terminamos de ver o Zero que entendemos o primeiro Cubo, e assim admiramos de onde surge tanta criatividade. Nos comentários do diretor, vemos que várias dicas são fornecidas, e que o filme traz muito de nossa cultura, apesar de também levar a questionamentos. Vejo que na ideia do ser para a morte, já falada por Sartre, pode ser uma chave possível a essa produção canadense. Vemos tantas armadilhas existenciais, como fanatismos, crenças absurdas, crimes, jeitinhos, etc, que se há uma lei maior, as pessoas estarão logo massacradas pelas armadilhas que elas mesmas montaram. O filme Cubo apenas mostra tais detalhes de forma fictícia, mas revela bem os preconceitos sociais, em especial com o transtorno mental e com a falta de fé verdadeira das pessoas, bem como seu egoísmo e luta pela sobrevivência. Um filme que tenho na prateleira e que sempre revela algo novo. Não se trata de filme clichê e sim, tem muita inovação. A curiosidade é que todos os personagens têm nomes de prisões pelo mundo, e que foi filmado em câmera de mão. Também o destaque fica para a empresa de efeitos especiais, a Core, que recebeu premiações. Mas fica a lição de aprender a saber pensar, para superar as prisões da existência.

(Trecho de livro Filmes e filosofia, do autor)
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 11/01/2013
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