Filme Os girassóis da Rússia e o trem do amor
Filme Os girassóis da Rússia e o trem do amor
Nessa produção italiana de Vittorio de Sica, vemos estrelar a talentosa Sophia Loren e ainda o galã Mastroianni, resultando assim em um drama que envolve guerra e mudanças, choques, apesar da eterna esperança na esposa do soldado desaparecido pelo reencontro dele, e de seu amor alimentado pelo mesmo. O filme se inicia com os enamorados na praia, curtindo a vida, até que vem a guerra, e assim italianos são convocados para guerra na África. O marido de Giovana Antonio assim pedindo licença para o casamento, apesar de ter dito antes pra ela que não mais queria casar, que tinha 32 anos e já teve todo tipo de mulher. O filme assim se desenrola no que em princípio parece uma comédia, haja vista a simpatia do casal. Inventam que Antonio está louco, mas por um azar o dono do sanatório descobre que ela ainda a namora e o mandam para a guerra na Rússia. Acaba assim a alegria e a vida jardinada pelo amor. O filme sempre muda de foco quando há um trem, e percebi essa jogada do diretor.
Mas o trem do amor parece ser o foco. Não tanto a guerra, mas essa coisa que sentimos e que noutra hora nos abandona, que nos humilha e rejeita. O trem assim parte pra nunca mais voltar. Não percebemos talvez que esse amor reside mesmo em nosso coração, que é algo herdado diretamente de Deus, uma ágape. Por outro lado, procuramos amor físico, fantasiamos mulheres perfeitas, seduzimos aventuras que ocorrem somente no trem da nossa imaginação. O trem do amor assim leva pra guerra, sofremos e desviamos para a fatalidade.
Nesse filme de amor, a Giovana vai procurar o marido e amado, desaparecido na guerra, e assim viaja até a Rússia anos depois do ocorrido. Hoje essa mulher teria procurado outro homem, ainda mais em terra de italianos e galãs. Mas da época que o filme representa, ela viajou e assim procurou em estádio de futebol achando um rapaz italiano, e, aos poucos ao perguntar para muitas senhoras, encontra a casa onde está seu esquecido esposo. Esquecido porque teve amnésia. Assim claro, estava com outra mulher, mais bela e mais jovem. Os caras já fcazem isso sem amnésia, imagina com amnésia – trocar mulher por uma mais bela e jovem. Na verdade o homem procura perpetuar seu sonho o no desejo projeta esses planos que tem em seu íntimo. Não tem a vare com idade, mas com manutenção da paixão. Mas Antonio foi salvo por essa jovem e bela russa (Mascia), e assim nada mais lembra de seu antigo amor, Giovana. Ela lhe mostra fotos e tudo, mas nada.
Imagine ter um amor que morre não pelo rompimento, mas pela amnésia. Seria uma fatalidade natural, um choque gnoseológico. Mas na vida real temos as experiências e elas não acabam sendo eternas, a não ser para nós mesmos. Porque o ego se ama, mais do que ama. Então a triste Giovana volta para a Itália, novamente de trem, esse trem do amor, descarrilado na realidade, e passam os anos e ela encontra outro companheiro, não um amor, mas um companheiro. Chove e retorna Antonio, a procura para pedir novamente o retorno do amor. Ele supera a amnésia. Assim ele pede ajuda a uma prostituta pra encontrar a casa dela, dormindo com a mesma, mas sem qualquer desejo pelo ato erótico. Liga deste local para Giovana e descobre onde ela mora. Vai lá e quase consegue um retorno desse amor, mas ela não mais quer. O trem do amor assim é pego e tristemente Antonio volta pra Rússia, ao tchau de Giovana.
O trem do amor lembra muito aquela obra de Platão, O banquete, onde se discute o amor e se fala na metade perdida de cada um. Talvez na amnésia e nas batalhas que temos na vida esquecemos dessa metade, dessa parte de nós mesmos. O trem do amor parte assim em frustrações e nos arrependemos de coisas que não fizemos, não vivimos, de coisas que não voltam, ficando no inconsciente. O trem leva para o fim, para uma dura transformação, mas que tem de ocorrer. Esse filme é especial porque tem a bela cena dos girassóis, que na verdade são de um local de cova coletiva, dos mortos da 2ª guerra. E também em homenagem a grande atriz Sophia Loren, que tem seu especial destaque.
(Trecho de livro Filmes e Filosofia, do autor, pela editora AGBook)
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 14/01/2013