Mariano Soltys
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MESTRE ENTRE NÓS - MULHER QUE NÃO ACHOU AMOR
A moça que não encontrou o amor


Certo dia uma mulher procurou o mestre por problema amoroso. Ela estava com 29 anos e nunca havia encontrado o seu amor, ou havia apenas sofrido decepções ou sonhado com um ou outro rapaz. O amor não vinha. Então esta falou com o mestre o seguinte:
 Mestre, eu queria uma ajuda espiritual sua. Vivo muitos anos sozinha e não sou feliz no amor, não sei mais o que fazer. Já tentei de tudo e já estou me sentindo velha, o tempo passou e eu não aproveitei. Trabalhei demais, estudei demais. O que você acha disso, morrerei sozinha?
 A individualidade é uma virtude. Sobre a tua felicidade, bela senhorita, ela pode tomar vários rumos no rio da existência. O rio passa e não é mais o mesmo, nem nós o somos quando ele passar novamente. Ainda és jovem, tens muito a viver, e mesmo que um pouco sozinha, entendas que em algum lugar do universo terás muita companhia e amor.  Opera a lei da compensação.
 Já estou um pouco desanimada nessa altura de minha vida. Vou ao salão de beleza e ninguém me nota na rua. Mudo o cabelo e pareço a mesma. Compro um sapato novo e os homens olham apenas para as minhas amigas. Haverá um dia alguém que me dirá “eu te amo”, dividir meu coração sem dúvida ou defesa?
 Você deve ser romântica. Deste modo quando sonhas e escreves poesias, assistes filmes românticos e voas em amores imaginários, estas semeando algo que pode se realizar, se não for nesse plano, certamente será no céu inferior. Você terá muita felicidade. Talvez não toda a que deseje nesse mundo ou dimensão, mas a família e o grande amor ideal encontrarás lá em Devakan. Mesmo os teus desejos mais sensuais serão satisfeitos em kama-lóka.
 Você fala que no mundo espiritual podemos satisfazer nossos desejos mais carnais e comuns da vida mundana?
 Claro, não duvides da tua vontade. Geramos formas-pensamento e até filhos quando amamos muito. Não ter quem não compartilhe nossa criação mental ou mesmo quem divida nossa autoconsciência não faz com que nossa obra não se realize. Somos magos naturais, cara dama, mesmo que inconscientemente.
 Mestre, você fala coisas que eu nunca ouvi. Parece tão jovem, não sei se posso te chamar de senhor. Mas eu fui apaixonada por um cara e ele ficou com outra, assim não mais quis nada comigo. Não consegui esquecer ele, o que faço?
 Você se apaixonou por um ideal, pelas tuas próprias qualidades. Há uma androginia alquímica em tua pessoa, tente satisfazer isso em alguma forma de arte. Não fantasie muito, você pode estar prejudicando esse homem com algum filho espiritual do teu desejo.
 Como assim?
 O que as pessoas chamam de encosto espiritual nem sempre vem de feitiçaria, pois pela vontade simples ou forte desejo ou emoção que as pessoas modificam o éter do astral.
 Nem pensava nosso. Achava eu inocente que ele sofria por ter me feito sofrer. Mas sofria por outra causa, por ato de mim mesma, quando ainda o amava solitária.
 Então ele sofre?
 Você parece ter adivinhado. Mas o esqueci, o que faço?
 Ame a si mesma. Cuide dos teus pensamentos, assim como você se cuida no salão de beleza. Faz da qualidade da tua alma e caráter o teu adorno. Não te espelhes no que as pessoas acham de ti. Não alimente autossugestões negativas, pois são magia negra mais nefasta. Não deseje aquele homem mais, nem faça que seja personagem de tuas íntimas fantasias.
 Eu pensei já estar em uma maldição, coisa do tipo.
 Não te preocupes, busca a Deus e nada te ferirá. Contudo a dúvida pode te deixar vulnerável. Medite nas suas qualidades e tenha uma vida mais regrada, menos bebida, menos pensamentos ruins. Atrairá assim o teu sagrado anjo guardião que te protegerá e iluminará teu caminho. Você pode encontrar outras formas de amor, sem apego.
 Eu pensei que todos vocês gurus, ou não sei de que chamar, acham o casamento essencial ou o isolamento necessário, um deles.
 O certo é a tua vontade e ama como quiser, com quem quiser e aproveita a tua fartura de amor.
 Que opinião curiosa e liberal...
 A lei da liberdade está contigo.
 Agora temos conselhos feministas entre os gurus.
 O amor é o sentimento mais rico que existe. Abençoado quem tem amor para dizer bom dia, para dizer boa noite. Quando possuímos tudo, não temos ainda nada quando não temos amor. Não valem as coisas que adquirimos, não valem os carros, as casas, o luxo, tudo isso vale muito pouco. Não valem diplomas e mil formações, não valem muito as vitórias se não se tem com quem comemorar. Quem encontrou o amor encontrou o paraíso sobre a terra. Busque mais liberdade com teu amor e ele surgirá quando menos espera.
 Farei o que estiver ao meu alcance. Gostei de teu conselho e palavras. Serei uma mulher mais livre e feliz. Não sonharei com coisas impossíveis e nem guardarei rancor com o passado.
 Um abraço, e vai com Deus de teu coração e entendimento.
 Abraço pra você também, e acontecerá uma reviravolta em minha vida.

A moça se foi e foi mais prática do que romântica dali para frente, encontrando seu grande amor. Ela conheceu antes alguns rapazes, namorou muito e se tornou uma mulher sedutora. Parece que se casou, separou e casou novamente. Mais feliz por compreender a realidade. Viveu melhor a metade final da vida que a inicial. Assim é para muitas pessoas, que se desesperam e não sabem que as coisas melhoram, que a vida por vezes toma esse rumo. Compreender a natureza humana faz com que se perceba essas nuances do espírito. Essa mulher, quando chegou aos 40 estava no auge de sua vida, conquistou muitas coisas e teve sempre prazer no amor após a transformação que passou. O período que falou com o mestre era crítico, e estava inclusive pensando em suicídio. O mestre teve uma identificação com essa pessoa, e algumas vezes isso ocorre. Lidar com o isolamento foi rotina do mestre, talvez também por uma necessidade da vida.

(Do livro Um mestre entre nós, à venda em www.agbook.com.br)
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 02/04/2013
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