Bíblia e tradução com base em ensinamentos do Talmud
“E o Eterno disse: “Não é bom que o homem esteja só. Far-lhe-ei uma companheira frente a ele!’” (Bíblia Hebraica, Bereshit/Gênesis, 2:18)
“Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea” (Bíblia, versão João Ferreira de Almeida)
“Um homem da casa de Levi tinha tomado por mulher uma filha de Levi, que se tornou em breve grávida, e deu à luz um filho. Vendo que este era formoso, escondeu-o durante três meses. Mas não podendo guardá-lo oculto por mais tempo, tomou uma cesta de junco, untou-a de betume e pez, colocou dentro o menino e depô-la à beira do rio no meio dos caniços”. Ex. 2: 1-3 (Bíblia, versão Ave Maria)
“Faze para ti uma arca de madeira de gôfer: farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora” (Gen. 6:14)
Quando lemos a Bíblia, percebemos em certas versões muitas dúvidas quanto a tradução, bem como com relação a interpretação do texto. Fica uma lacuna porque geralmente se começa do zero em tal tarefa, pesquisando o hebraico para se chegar ao significado. Porém, muitas passagens, em especial do Antigo Testamento, já foram bem trabalhadas pelos judeus, na sua tradição oral, a qual está na maior parte inscrita no Talmud, onde há quase infinitos questionamentos sobre a Bíblia. Jesus aos seus 12 anos, quando foi a Sinagoga, foi assim questionado, e estudou possivelmente a tradição talmúdica. O Talmud em muito é a Torá oral, e tem vários comentários em sua composição, como a Mishna e a Gemara, que muitas vezes vemos raramente citados em livros de estudos do Evangelho.
Vemos como um sábio que marcou muito a composição do Talmud sendo Rashí, um estudioso de grande sabedoria. Vemos também a colaboração de Rambam, mais conhecido como Maimônides, e ainda outros. Perseguições colocaram na fogueira da intolerância muitos Talmudes, e sobreviveu em muito com a boa vontade de judeus que peregrinavam pelo mundo. Não há uma tradução em língua portuguesa, nem do Talmud da Babilônia, o mais questionador, e nem o de Jerusalém, mais conciso e objetivo. O interessanmte ao se ler uma Bíblia Hebraica é a influência dos ensinamentos desses mestres de Israel e do Talmud, sendo várias passagens se desenrolando mais claras no texto, e focadas em mínimos detalhes de palavras.
Já nos livros de Gênesis, ou Bereshit, e Êxodo, ou Shemot em hebraico, vemos uma série de nuances no texto, haja vista a colaboração da tradição oral. Outro escrito que clareia é o Chumash, que é um tratado de comentários a Torá, tendo um volume para cada livro. Lá vemos a revelação dos sábios sobre a letra, em especial de Rashí, e ainda de grande importância tantos outros, como Abarbanel, Seforno, Rambam, Ibn Hezra e outros sábios de respeitável memória. Já no Gênese notamos que Eva foi criada para ir “à frente” de Adão, e por isso muitos judeus dizem que as mulheres não precisam estudar tanto a Torá, pois se o fizessem, saberiam mais que o homem. Também em Noé, se fala na sua “arca”, onde Abarbanel fala que não se trata essa não se trata de um barco e nem navio. A mesma palavra (Tebah) está na arca de Moisés, que ninguém pensaria ser um navio. Não se fala em cesta, mas em arca na qual se colocou Moisés.
Fica claro que ao se ler Jesus, Ieshuah, notamos que ele se baseia muito nos ensinamentos midráshicos/talmúdicos, na Mishna e tradições orais judaicas, bem como inserido nos costumes. Em Mateus 18:20 “Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”, nada mais faz que lembrar um ensinamento da Ética dos Pais, ou Pirke Avot, parte do Mishna. E assim vai. Lá começa por Dez reunidos, e faz uma parábola. Também a palavra Dilúvio (Mabbul), tem mais o sentido de caos ou de confusão, que de uma inundação de água. Também o contato com anjos foi na maior parte através de visões em sonhos, com exceção de Moisés. Maimônides diz que muitas passagens da Bíblia são simbólicas, o que trás certa oposição de outros exegetas da Torá. Já em Gênesis 32: 32, “Por isso os filhos de Israel não comem até o dia de hoje o nervo do quadril, que está sobre a juntura da coxa, porquanto o homem tocou a juntura da coxa de Jacó no nervo do quadril”, se refere a uma regra que está nos costumes judaicos, após essa luta de Jacó com o anjo de Deus (e não com Deus...), de modo que se proíbe comer o nervo ciático (Tratado Hulin, 101:B). E assim vai. Jesus era judeu, circuncidado, e sabia muito bem de todas estas regras, haja vista sempre desafiar Fariseus, Saduceus, Escribas etc e outros, que certamente usavam tais doutrinas como forma de exercer o poder e que ninguém chamado de Mashia (Messias), pelo povo e por seguidores, o faria não fosse um homem sábio. Mesmo não se sabendo escrever, claro fica que essas tradições eram dada de boca à boca, de modo que certamente não apenas Jesus, mas seus apóstolos eram versados na tradição talmúdica ou oral. Mesmo porque existiu um cristianismo pré-evangélico (sem Escrituras). E a tradução tem de levar em conta esses detalhes, já que não se alterava as letras do original, e mesmo pelo hebraico não conter vogais nas palavras.
Fontes
Bíblia Hebraica, editora SeferBíblia – versão João Ferreira de Almeida – e-book versão MS readerChumashBíblia- versão Ave Maria