Mariano Soltys
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O Reino dos Céus e seu encontro místico
O Reino dos Céus e seu encontro místico

“Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto; Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mat. 3:2).
“O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Eí-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós”. (Luc. 17:20)
“Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3:3).

A principal doutrina de Yeheshua (Jesus) parece ter sido a doutrina do Reino. Chamada de diversas maneiras, o mestre usava de parábolas para se referir a mesma, haja vista a carga de mistério do ensinamento, e a reserva de sua declaração. Aos discípulos, porém falava abertamente, sem parábolas. Na Bíblia há muitas referências ao Reino, sendo que no judaísmo a cabala se refere como a esfera de Malkut, revelando o atributo do reinado de Deus. Muitas vezes confundido o termo com mero poder temporal, ou com poder de igreja x ou y, e assim por diante, até mesmo em confusões teológicas e sectárias, resta que o Reino não fica muito próximo, como o mestre nos havia ensinado. Confunde-se com a chegada do Apocalipse, ou com algum poder mundial, ou mesmo com simples metáfora ou figura de linguagem. Mas o Reino é em verdade um estado sublime e real.

Teremos assim de fazer umas considerações sobre o Reino. Primeiro que o seu encontro místico deve dar um estado tal, que nada mais importaria, nem dinheiro, nem posses e nem nada. Isso fica claro quando Yeheshua leva muitas lições de desprendimento (kenosis), e mesmo o seu exemplo leva a imitação nesse sentido. Logo o Reino não está próximo no tempo, mas sim no espaço. Está em nós mesmos, como lembrou Lucas. Também não se confunde com reino temporal, não que o messias não venha também nesse sentido, mas que governa antes a todos, interiormente. Já em muitos escritos meus falei de Cristo Interno, o qual independe de Igreja, governo do mundo, rei etc.

Para se chegar a esse Reino, além de imitar o que nos ensinou Nosso Senhor Jesus, se tem de ter uma dedicação e uma busca no caminho, que além de purificação, conversão e fé, exige por fim uma união com Deus, ou ao Pai, tão proclamada e lembrada na oração do “Pai Nosso”. Também o ritual da eucaristia, bem como experiências com o Espírito Santo, revelam essa proximidade, e mesmo o Reino que está próximo, e o compartilhar dessa realidade. Estudos meramente teológicos são limitados, e a simples ocorrência de curas ou milagres, ou de mera prosperidade material não garantem o Reino, apesar de que muitas igrejas se foquem apenas nesse sentido. Nem a tradição ou a instituição x ou y levará meramente por sua afiliação o estado do reino de Deus. A experiência é pessoal e íntima.

Para tanto, alguns místicos encontraram o Reino dos Céus, ou melhor, tiveram a experiência deste. Assim não basta apenas estudar, ter fé, ou trabalhar. Se tem de ter o merecimento e saber que é “chagada a hora” e que se estará “unido ao Pai”, se terá retornado a “casa do Pai”. Esse encontro leva aquele amor que tanto pregou o mestre, incondicional, relativo ao coração, e não a concupiscência. Isso nos ensina principalmente a parábola do “Filho pródigo”, que se perde no mundo, mas que retorna ao Pai. Desta feita, o Reino já está próximo, e basta que retornemos ao mesmo, uma vez que o Pai não rejeita o filho. E além da fé e da razão, a principal ferramenta que leva a compreender o que se trata o Reino é a intuição, que nos inspira e une ao Espírito Santo, assim levando que entremos nessa “porta estreita”, que é a iniciação nos mistérios de Deus.  Esse é o kerygma (boa nova). Exige assim a purificação e a iluminação que decorre da união com o Pai, na imitação de Cristo e na sua presença interior.
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 09/12/2013
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