Mariano Soltys
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Dois canecos
 
                Há quem beba dois canecos de chope. Há quem beba acompanhado, e há quem beba sozinho. Há quem usufrua mais canecos, e há quem não beba nada. Estive na festividade recente nesse último exemplo. Talvez a liberdade de beber ou não beber, de andar de short ou bermuda, ou mesmo de fazer uma festa paralela nas ruas seja pela própria liberdade a conquista. Vemos assim nesse momento várias ideologias desfilando na rua, mais do que a alemã ou germânica. Há o desfile das lutas de classe, há o desfile das feministas e há também uma concepção de ser-humano-massa, onde ninguém sabe o que faz, e todos seguem o coletivo do momento. Em meio a tudo isso fui observador, e admirador do meu tempo.
            Dos dois canecos, um será o moralista, contra a festa e qualquer boemia, e outro caneco será o próprio boêmio. O moralista que se torna boêmio, o boêmio que se torna moralista. Disse o filósofo Jean-Paul Sartre que em tudo há uma moral. Lembro também da obra de amigo escritor, Fídias Teles, onde fala de ocorrências e lições da boemia. Esses tempos, uma amiga falava dos boêmios dos antigos cafés, poetas, escritores e intelectuais. Lendo obra sobre história nacional, me deparei com as loucuras de Álvares de Azevedo e seu grupo, que abusava por dias em um costume muito festeiro e rebelde, perturbando o local onde se divertiam.
            Sempre vejo com otimismo qualquer manifestação cultural, não apenas por ser conselheiro de cultura, mas por ver nisso uma grande manifestação do ser humano. Surpreende a liberdade, e mesmo certo respeito. Talvez há abusos, mas mesmo assim funciona tal evento como uma catarse, um alívio psicológico de tantas tensões. A juventude não tem mais muita opção, e tudo virou comércio e consumo. Numa época de tanta exigência intelectual e profissional, a nossa geração jovem de informação e tecnologia, muitas vezes não tem opções, e a festa de rua pode ser uma alternativa, que com pouco se contém. São assim dois canecos, aquele de quem participa e outro de quem observa de longe.
            Também devemos ter em conta essa sociedade de ginástica, que tanto prezamos e respeitamos, e que tem historicamente um papel até maior do que conhecemos. Possui ligada a ela clubes de tiro, musicais e folclóricos, dentre outros. A ginástica era um centro original, e já tivemos até atletas olímpicos que dali surgiu. Então, são mais dois canecos, o do que as pessoas pensam dessa manifestação cultural, e do que ela realmente envolve, muita mais amplo. Nosso germanismo e herança teutônica sempre estarão aqui, mesmo em centenários após, uma vez que fazem parte de nossa cultura, que não pode ser definida, tamanha a complexidade e amplitude.
            Há dois canecos, o da paz e o da guerra, e fico com o da paz. Há também o caneco da diversidade cultural, e assim presenciamos apresentação polonesa no evento. Logo teremos tantas e tantas outras modalidades culturais, e assim as coisas se ampliam. Um belo desfile e pessoas bonitas. Vejo que beber desses canecos, os canecos da felicidade, mesmo sem qualquer álcool, fazem de um pensador alguém que admira sua cidade, essa pequena mas grande comunidade regada de germanismo. Acho que me tornei escritor por ter em mim esse perfeccionismo e fixação no trabalho só nosso, e tenho assim em dois canecos, minhas conquistas, que são os canecos da filosofia e da cultura. Filosofia que me leva na prática da luta pela justiça, através da advocacia, e que leva a admiração da cultura, seja qual ela for, pela própria liberdade. E saber que se podem desfilar conquistas feministas, como shorts e minissaias, ou mesmo a luta de classes de se ter festa nas ruas, faz desse momento uma conquista filosófica. Essa uma conquista democrática, a de ser quem se é, sem imposições e aceitando sua verdadeira natureza. Dois canecos: vida e felicidade.
 
Mariano Soltys
Enviado por Mariano Soltys em 17/09/2014
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