FRANCISCO SUAREZ (1548-1617)
Francisco Suarez ou Doctor Eximius, nasceu em 5 de Janeiro de 1548, em Granada, membro de família fidalga ou abonada castelhana. Aprendeu latim já em sua casa, com Juan Latino. Assim em 1564 ingressou na Companhia de Jesus em Salamanca, mas foi um tanto afastado pela falta de vivacidade intelectual. Mas logo demonstra suficiente gênio para desenvolver uma das carreiras intelectuais mais brilhantes de sua época. Foi discípulo de Martin Gutiérrez, estudando Filosofia e Teologia. Então lecionou teologia e filosofia em Segoya e Avila, em Valladolid e em Roma, sendo muito unido ao cardeal Belarmino e ao Papa Gregório XIII. Passa então a ensinar em Alacalá de Henares, onde publica primeiros livros, apesar de estes renderem dificuldades junto a censores dominicanos. Em Salamanca estudou Direito, e foi assim um jurista, ademais, sendo uma das bases do Direito Internacional. Mas sua obra magna pareceu ser Disputationes metaphysicae. Então, ser é aptidão para existir. Ele faz uma espécie de reforma na escolástica para a trazer mais para a realidade. Teve polêmicas com padre Gabriel Vázques sobre questões jurídicas e teológicas. Tinha ótima didática e plantava o questionamento nos alunos, para assim aprofundar as questões. Não era a favor da repetição. Também não defendia uma forma específica de governo, mas defendia que o povo devia escolher a forma que melhor lhe conviesse. Assim não defendia direito divino de reis. Sua obra Disputaciones foi usada nas principais universidades católica e protestantes da Europa. Já sobre o tema jurídico, escreveu De legalibus e Defesa da fé Católica, que mostram o tema do direito natural e outros. Criticou a colonização espanhola nas Índias. Talvez por isso seja uma referência também em Direito Internacional. Tinha uma grande erudição do grego, latino, árabe, e hebreu, tentando simplificar as coisas. Teve assim a primeira construção metafísica sistemática depois de Aristóteles. O pensamento mais moderno entre os escolásticos. Surge assim uma escola com seu nome, o Suarismo. Em parte chega a se distanciar do tomismo. Em especial da relação Criador-criatura. Suas ideias de jusnaturalismo antecipam as ideias de pacto social, e mesmo de soberania, a que outros autores são tão homenageados posteriormente. Democracia contra cesaristas, maquiavelistas e luteranistas. Mesmo os legalistas sofrem crítica. Pois a lei de Deus está na natureza, no direito natural. O direito das gentes ou lei positiva humana ganha um papel de complementar. A metafísica para ele se preocupa com o real e material. Sobre os universais, segue o caminho de equilíbrio entre Escoto e Ockham. Uns o classificam como nominalismo moderado. Fala também de uma unidade formal. Fez comentários a Summa de Tomás. Na sua defesa católica combate os erros dos anglicanos. Entende de que cidadãos possam se defender de um tirano. Foi contemporâneo de rosacruzes Giordano Bruno e Francis Bacon. Por isso também vê alguns problemas na escolástica e se aproxima mais do conhecimento esotérico ou iniciático. Também sua obra foi conhecida de Descartes e Leibniz, também ligadas a certo esoterismo e ao grupo citado. Esse ser que se aproxima da realidade parece nos levar até Hegel, ademais. Segundo Suarez os entes inferiores seriam concebidos por um processo de contração. Isso lembra o tzimtzum de cabalistas. Seu pensamento parece se aproximar em mais pontos da santa cabala. Fala sobre a Causa Primeira e também do ser infinito (que lembra o En Sof de cabalistas...). Fala de certas limitações, o que poderia nos levar a pensar nos atributos divinos. A pessoa como uma substância dotada de racionalidade. Terminou Suarez a sua carreira na Universidade de Coimbra, indo a Lisboa e por lá falecendo, em 25 de setembro de 1617. Sepultado na Igreja de São Roque.