Filosofia e religião
Do suposto mal divino
Das leituras do Antigo Testamento se costuma notar certas crueldades, como crimes e genocídios. Umas delas seria a ordem de Deus para que a nação de Israel extermine os povos cananeus. Também se nota em Números a ordem para se matar todos os meninos e as mulheres casadas, se poupando as mulheres virgens. Tais passagens, assim como outras tantas, fazem o religioso a questionar se Deus é amor, como teria afirmado o Novo Testamento. A leitura literal vai levar a grande contradição.
Os sábios judeus, verdadeiros filósofos, não escreveram a Torá para a leitura literal, porém. É um livro que fala do mundo espiritual. O mesmo se pode falar de egípcios, babilônicos e outros que não teriam sentido para a posteridade, uma vez não mais existirem na forma bíblica. O tema fala na verdade de se buscar o Criador, ou exterminar seus inimigos, os idolatras, que nada têm a ver com povo do mundo, mas sim com o egoísmo, e com desejos internos que afastam do Criador, chamados pelos sábios de Israel de “nações”, “idólatras”, “cananeus”, “egípcios” etc. Logo, longe de se interpretar literalmente a morte de pessoas por ordem divina, se interpreta misticamente da morte de coisas que afastam do Criador, e do amor ao próximo. Logo, Deus é amor. O mesmo ensinava Agostinho de Hipona, o filósofo cristão, que o mal não existe, pois de Deus apenas vem coisa boa e perfeita, e o mal é uma ausência, está fora de Deus. Outros atributos divinos, como justiça, misericórdia, também foram trabalhados por sábios filósofos como Maimônides, mas judeu, de modo que não se deve confundir atributos humanos, sendo estes usados apenas para efeito de compreendermos o Criador, que é Infinito, Onipotente, Onipresente etc.
Logo, a Bíblia literal não se pode conciliar, sem a Torá Oral (Bíblia Oral), sem as tradições dos judeus e a sabedoria, gerando risco de se ver o errado com relação ao Criador, pois não há nada além Dele. Apenas pelo texto bíblico mesmo, a contradição fica irreconciliável. Quanto aos costumes, o povo hebreu também teria cometido barbaridades, se ao ler Crônicas, Juízes, Reis e outros livros, que denunciam tais idolatrias e desvios de moral. Por fim, a Bíblia trata de coisas espirituais, usando apenas coisas de nosso mundo para entendermos esse mundo espiritual. No Talmude se fala de uma heresia que apenas acreditava na Torá escrita. Sem a leitura dos sábios, e Nosso Senhor Jesus é um desses sábios, não se pode entender que Deus é amor. Possivelmente influenciado por sabedoria oriental e essênia, e com sua mística, Jesus demonstrou a diferença entre a visão sacerdotal do passado, dos Saduceus e outros, que não acreditam em nada além do texto e da tradição. O fundamentalismo está envolto dessa limitação, uma vez que simplifica muito, se afastando da sabedoria da Bíblia, que vai muito além de se ler e repetir versículos. Certos místicos separavam o Deus racial do antigo testamento de Deus de amor da nova aliança. O texto sagrado foi escrito por grandes iniciados e sábios, para a leitura de sábios. Doutra forma se arrisca a jogar tudo por terra. Por isso da leitura de Nosso Senhor Jesus mostrar o amor de Deus e a sabedoria em se amar o próximo.
Mariano Soltys, advogado, filósofo e teólogo